Vida que nunca encontra a morte
Dentre o abundante noticiário feito em torno do chamado Dia Internacional da Mulher, encontro matéria que me chamou a atenção, mais que todas as outras. Refere-se ela à trajetória de uma jovem recentemente aprovada no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Se é possível ainda hoje a ressurreição, seria pecado mortal ignorar a vida da menina que até os 9 anos de idade morou em um cemitério. Lá, onde são sepultados os mortos, ela não se deixou matar pelo desânimo, nem enterrou seus sonhos. Ao contrário, a jovem advogada enfrentou a expulsão do local em que morava com sua família, como poucas o teriam feito. Deixou para trás aquele ambiente cujas construções, capelas, lápides, sepulturas humildes eram parte de suas brincadeiras de menina. Manja, esconde-esconde e outras formas de viver a vida, mesmo se entre milhares de mortos. Aluna de colégio de tempo integral, a defunta (como a apelidaram os colegas do estabelecimento militar) casou-se aos 17 anos. Mas não esqueceu a promessa feita à mãe, de que sua vingança às condições precárias em que passaram a viver, após a expulsão do chamado campo santo – seria dar-lhe uma vida menos dura, sobretudo uma Vida cercada de outras vidas. Agora, Viviane de Souza Monteiro, 27 anos e dois filhos, ingressa na atividade e no ambiente que tem como dever precípuo o de concretizar a Justiça. Em todos os seus matizes. E será uma das que, como tantas outras mulheres, se empenhará a fazer do Direito o mais legítimo caminho para a Justiça. É o que se pode esperar de quem transforma a morte alheia na vontade de cultuar e cultivar a Vida. Dela e de seus semelhantes.
Autor Professor Seráfico
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