O NATAL NÃO MUDA, QUEM MUDA SOMOS TODOS NÓS
Pronto, amanhã é dia de Natal, ele abriu a soleira da porta. É de franquear-lhe a entrada, abrir-lhe os braços, largo sorriso aos lábios, oferecendo-lhe a casa, os moradores e tudo o mais que de seu espírito se impregna. Afinal quem garante que esse não é nosso último Natal? É hora de resgatar tempos longínquos, vultos e sombras abrigados no passado com ares muito distantes. O Natal é a expressão de sentimento geral de paz e de felicidade coletiva. Esquece-se o passado de magoas para construir o futuro de alegria e compreensão. A esperança sobrepuja a angústia. O gosto de viver afasta obstáculos, para que a estrada limpa abra ensejo a nova caminhada. Nessa travessia, há sempre confiança na renovação do destino, ou na descoberta de meios para fazê-lo menos ingrato. Mesmo diante de injustiças e maldades, o indivíduo acredita no aperfeiçoamento do caráter humano. Mas Natal deveria ser todo dia, pela graça de que as reconciliações mais imagináveis, as retratações mais impossíveis aconteçam. Podemos fazer o impossível com que é possível hoje. Perdão não é perda. Se aguardamos tanto o dia de Natal por que retardamos tanto a virada de atitude? As pequenas, as banais, as do cotidiano. Estar sempre renascendo para diversas experiências nos exige muito mais do que viver como gôndola de supermercado: cada coisinha no seu lugar, cada hora para cada coisinha. Uma data é só uma data vazia se não entramos fundo no seu significado. O Natal não muda, quem muda é a gente. O trio consagrado, o Menino, Nossa Senhora e São José são sempre os mesmos. O Natal abre uma boa oportunidade para a reflexão sendo o momento adequado para as pessoas no que podem influir, como interferir, como contribuir para a construção de uma vida com mais dignidade. Remete á lembrança de bons exemplos, a mensagens de amor e fraternidade. A realidade torna difícil ter disposição e crença de que o mundo pode ser mudado. Abre a oportunidade para deixar de lado o desânimo, para acreditar que é possível mudar. Mas o Natal também desnuda a pobreza, desaponta algumas crianças, que apenas assistem de longe o desfile dos sofisticados brinquedos e jogos eletrônicos, de controle remoto dos meninos ricos, as bonecas que falam, choram, conversam, andam, batem palmas. É também um espetáculo triste se observando o desapontamento em seus rostinhos sombrios e esquálidos. Na melancolia também da noite de Natal, figura um elemento sensível: os mortos. Nossa festa de amor é costurada de ausências.
O ano nos deixou mais velhos, mais despidos de ilusões, embora mais experientes. Tudo isso se passa dentro de nós, que aparentamos aspecto festivo e não queremos dar aos nossos amigos e parentes uma impressão incômoda. Esta mentira suave impõe-se como verdade. E funciona como verdade. A noite de Natal não dá para reduzi-la em horizontes materiais, mas há como resguardá-la na sua dimensão espiritual. Feliz Natal a todos.
Autor Flávio Lauria
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