Os outros
Esperta como poucas da mesma idade, a menina não chegara aos três anos, e surpreendia os adultos. As crianças mais velhas também não escondem a surpresa, sempre que observam o desembaraço da pequena. Talvez os pais e a avó, pela convivência diária, se dessem menos conta do à vontade em que a filha e neta sempre se encontra.
Esse tipo de aproximação às vezes impede a exata percepção do observador. A normalidade e o cotidiano não favorecem a apreensão mais adequada da realidade. Mesmo o crescimento dos seres humanos se deixa obscurecer em meio à rotina.
As pessoas menos próximas daquela garota ou quem raramente a encontra tinham mais e melhores condições de observá-las. É-lhes mais fácil comparar a pequerrucha com outras de sua idade.
A surpresa, portanto, era quase sempre esperada. A menina, mesmo em ambiente familiar ampliado, sempre se mostrou perfeitamente desembaraçada. Quase sempre, em meio a dezenas de pessoas da família, devolve as perguntas como resposta às interrogações com que a desafiam. Nem faltaram vezes em que ela desconcertara avós, tios e primos mais velhos. Respondendo a uma pergunta eventualmente provocadora ou perguntando, ela mesma, algo embaraçador.
O interlocutor adulto balança nos alicerces. Foi demais!…
Naquele dia a que se refere este relato, a garotinha foi muito mais longe do que já fora. Aberta a porta da casa onde com frequência a família numerosa se reúne, antes de qualquer outra coisa e à constatação de que ali havia umas poucas pessoas apenas, ela disse, do alto de seu desembaraço e sua capacidade de observação: e os outros?
E a avó e a tia presentes não puderam esconder a surpresa.
Gargalharam.
É assim Maria Virgínia.
Autor Professor Seráfico
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